

"Representar o movimento negro é trazer o legado dos que vieram antes de mim: Lélia, Abdias e tantos outros que disputaram a historia desse país"
WESLEY TEIXEIRA
Criador do pré-vestibular popular +Nós, negro e periférico, Wesley Teixeira acredita na luta pela educação desde os 12 anos de idade. Não se denomina político, mas sim educador que está exercendo tarefas políticas. Acredita que o senso de coletividade foi passado pelos pais que são evangélicos: “A coletividade ser um valor tão forte, acho que vem daí. A entrega ao outro, vem daí. A fala vem daí. Então acho que influencia muito meu meio. As necessidades também que eu passei e senti, me fazem uma pessoa muito empática.”
Wesley Teixeira. Foto: (Reprodução @wesleyteixeiras).

A primeira candidatura como vereador em Duque de Caxias foi motivada pela necessidade de dialogar. Wesley sentia a necessidade de dar corpo à esquerda. “Eu topei essa tarefa de dialogar com o povo. Logo depois de uma tentativa deles de fazer a gente retroceder da morte da Marielle, que era isso e precisava ter um recado pra eles que a gente não ía retroceder e eu precisava enfrentar a pandemia e as suas consequências, não só no campo da sociedade civil mas também no campo da política”, diz.
Marielle Franco. Vídeo: (Reprodução @wesleyteixeiras).
"Comecei a pregar aos quatro anos". Falar e ser ouvido, expressar ideias para um público atento, reconhecer-se como um ser político com uma função comunitária a cumprir. Tudo isso teve papel fundamental na formação cívica de Wesley desde a infância. Na Igreja Pentecostal encontrou o primeiro espaço de sociabilidade que abrigou e ajudou sua família. Em momentos de apertos financeiros, era nos braços da comunidade evangélica do Morro do Sapo, em Duque de Caxias, que os Teixeira encontravam amparo. Filho de pastores, a mensagem de Cristo sempre guiou sua caminhada, seja na vida pessoal ou na vida pública.

Wesley Teixeira. Foto: (Reprodução @wesleyteixeiras).
Pré-vestibular +Nós. Fotos: (Reprodução @maisnosoficial).
Wesley Teixeira sempre teve um poder muito grande de crítica social, e essa capacidade aflorada começou quando tinha somente 12 anos. Acreditar na luta pela educação fez com ele criasse um pré-vestibular popular social: +Nós. O projeto teve início em 2015 com a colaboração de vários amigos,com o primeiro polo na periferia de Caxias e logo depois foi se tornando cada vez maior, ocupando espaço em outras periferias do Rio de Janeiro. Nilópolis, São João, Petrópolis, São Gonçalo e recentemente em Piabetá Magé, no 6º distrito, esses são os lugares periféricos que o projeto existe e resiste.
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Essa atitude de Wesley, reverberou em conquistas incríveis na vida de vários jovens periféricos, principalmente o ingresso da juventude negra nas universidades. Só reforça o quanto a educação é o fator crucial para o desenvolvimento social e econômico do país.“Olha, eu confesso que quando o Mais Nós iniciou, eu não fazia ideia do tamanho que ele teria. Mas, me causa enorme orgulho ver uma juventude negra de periferia rompendo uma barreira e ainda mais numa lógica de coletividade, sabe? Da gente se ajudando para que isso aconteça. Então, hoje eu tenho muita felicidade e me sinto realizado, sabe? algo concreto que já foi feito e não pode ser tirado”, afirmou o educador.
Alunos. Fotos: (Reprodução @maisnosoficial).
No movimento estudantil, aprendeu sobre a força da organização coletiva. Jovens periféricos na luta por condições mínimas de dignidade em sua escola. Logo percebeu que a falta de bebedouros, quadras esportivas e professores era um problema mais complexo que parecia. Descobriu que sua luta política atravessaria temas como o racismo, o tráfico de drogas, o encarceramento em massa, a fome. Levantar a voz pela educação pública de qualidade na periferia do Rio de Janeiro significa questionar diferentes mazelas que entrecortam o assunto.
Campanha Tarcísio Motta. Vídeo: (Reprodução Youtube/Tarcísio Motta).
Para questionar a ausência do Estado e de politícas públicas para a população negra e pobre, Wesley decidiu ocupar os espaços historicamente negados aos negros. "São 500 anos de ausência do Estado, ou, mais que ausente, quando está presente o Estado tem o povo como alvo", afirma. Em 2021, deixou o PSOL depois de dez anos nas fileiras do partido. Em sua campanha para a câmara municipal de Duque de Caxias em 2020, provocou discussão entre os psolistas ao recusar devolver uma doação de 85 mil reais do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e dos irmão Moreira Salles, herdeiros do Banco Itaú. O partido proíbe doações vinculadas ao mercado financeiro. Wesley questionou a seletividade da regra e expôs a diferença de investimento entre campanhas de candidatos brancos da capital e os demais.
Teixeira seguiu Marcelo Freixo e filiou-se ao PSB em 2022. Além de concorrer uma vaga na ALERJ, o educador tem como objetivo construir as campanhas de Freixo e Lula para derrotar Bolsonaro e seus aliados. Fazer política institucional na Baixada Fluminense é um ato de coragem. Nos últimos seis anos, 35 políticos foram assassinados na região. Em 2021, o Galpão Gomeia, espaço cultural no Centro de Caxias, foi invadido por dois homens armados. O galpão é base do Movimenta Caxias, coletivo do qual Wesley faz parte. A intimidação assutou, mas não fez o ativista dar um passo sequer atrás.
"Foi um momento de muito medo, não vou mentir. Mas eu sou cercado de um coletivo muito grande e o que me mantém de pé é a minha fé. Essa fé me diz que eu preciso entregar a minha vida pelas coisas que eu acredito".